segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Conto do Louco sem nome - Parte 4

Créditos pela imagem: juliana.moraes

Vingança! Vingança! Vingança!
Vingança. Vingança.
Vingança...
Mas que vingança uma mulher tão doce e pura como Judite poderia tramar?
Sentia ódio, vontade de extravasar aquela dor sendo dessa vez algoz daquele que a fizera sofrer. No entanto, estava perdida. Impotente...
Era algo como se uma grande bola com superfície semelhante a um ralador de queijo se expandisse descontroladamente de seu peito, mas a mesma fosse incapaz de romper a sua pele.
Talvez a fúria e o ressentimento a impedissem de ter algum pensamento racional. Num desses acessos pensou em matar o tal Carlos. Não friamente, pois em sua mente só ocorriam imagens sádicas desses possíveis atos.
Um machado...
Cabeça.
Sangue!
Lágrimas...
Sorriso.
Angústia se esvaindo...
Depois de tudo um vazio...
Uma sensação de ter feito algo sem saber o porquê. Mais tormento...
Um machado ensangüentado e um sorriso precedidos de lágrimas que caíam num crânio rachado, não seria esta a melhor cena congelada em sua mente para a libertação de sua própria angústia. Seria apenas um desafogo, que no fim resultaria em mergulho num novo e poluído lago de desolação.
Decidiu então engolir seus sentimentos, para saber melhor o que fazer. Deixar se acalmar... Por uns tempos. Meses talvez... Anos, quem sabe?!
O tempo é relativo. Para uns tudo que acontece agora terá um grande significado daqui a dez anos, para outros isso de agora será eternamente uma grande estupidez. Para muitos coisas corriqueiras se tornarão belas ou memoráveis daqui a um tempo, para alguns poucas coisas serão dignas de serem lembradas, mesmo num futuro próximo. Nossa memória é seletiva. Decidimos o que é conveniente não ser esquecido. Mesmo quando não temos isso muito claro para nós mesmos. E em certas circunstâncias precisamos viver, absorver outras coisas para encontrarmos outros caminhos... Refúgios em prisões que nos resguardam de nós mesmos... Daquilo que somos, mas não queremos ser...
Decidiu se casar. Casar com Carlos... Transparecer que cedera a seus cortejos.
Idéia maluca pode parecer. Até mesmo incoerente...
Carlos lhe cobria do que achava que era o melhor do amor. Jóias, belas roupas, muitos presentes e ele mesmo sempre presente. Vivia em função de Judite. Casou-se com ela para a fazer feliz.
Mas ela era indiferente...
Se Carlos a tinha em sua casa. Se era sua companheira nos papéis judiciais que tão pouco valem, ela lhe era mais ausente do que quando descaradamente o desprezava. Isso o atormentava e o entristecia... Lembrava-se daquela vez que...
Catabloom!
- Hei, seu mendigo de merda! Saí daqui que da próxima vez que ficar falando esse tanto de asneira vai sentir muito mais que a sola do meu coturno!
Isso quem falava era o segurança do terminal de ônibus em que o nosso amigo louco contava suas estórias.
O louco caiu no chão com o chute, bateu a cara num banco de concreto ao lado e ficou todo sujo do próprio sangue. Gritava: “Fela da puta do carai duma figa rapariga num inferno”. Porém, não brigou. Apenas saiu do lugar.
Caminhava a passos rápidos, primeiramente, depois lentos... Depois lentos e rápidos e no fim foi parar numa praça. E escolheu uma platéia de pombos para continuar o que contava, mas que não lembrava muito bem do que seria.
- Boa tarde, meus caros amigos, muito mais nobres que toda a espécie humana. Porque apesar de seus piolhos e das doenças que trazem junto de si, são muito mais sublimes que qualquer um dos nossos. Porque têm asas! E têm a aparência do espírito santo! Apesar que eu não acho que ele seria cinzento e sujo como a maioria de vocês...
Alguns pombos pousavam sobre o homem. Ele não se importava... Suas roupas com isso ficavam mais coloridas, pois se misturavam a elas agora plumas e fezes dos pássaros.
Braços abertos, um rodopio, um cantarolar de uma música em língua desconhecida!
Ah, era perfeito! Cadê minha câmera para captar aquilo?!
Ei, uma faca! Faca, pombo. Pombo, faca!? O nosso amigo tinha se alimentado até aquele momento?
Entendi melhor aquilo quando ele degolou o pombo e ficou gargalhando, pois tinha algo para comer em seu jantar.
- Haaaaaaaaahhhhhhhh! Você tem cérebro de passarinho mesmo, heim?! Vai virar papá pro papai então! Haaaaaaahhhhhhhhh! Mas antes vou continuar a estorinha pros coleguinhas que aqui me ouvem... Um, dez, cinco, dezenove, vinte e oito, dezedez.... Nenhum... Nem gosto de gente mesmo...

2 comentários:

  1. Valeu pelo comentário e pela força irmão. Não vou comentar sobre seu texto agora porque quero ler desde a primeira parte, amo contos, chegue a escrever um em 3 partes. Assim que eu ler eu volto a comentar, sera em breve.

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  2. Não é atoa que são contos de um Louco sem nome, mais louco que sem nome...

    “Fela da puta do carai duma figa rapariga num inferno” Esse eu usarei quando estiver com tamanha raiva;
    "Porque apesar de seus piolhos e das doenças que trazem junto de si, são muito mais sublimes que qualquer um dos nossos." (Muito há de verdade nisso, ele não é tão louco assim, talvez nem seja louco);
    Pra terminar, já diria Érico Verississimo "O contrário do amor não é o ódio, é a indiferença." (Judite, fez muui bieen em se casar com Carlos, vc o matará aos poucos).

    A construção do conto, na minha leiga interpretação, o deixa com aparência fisica confusa e isso é faz com que ele se encaixe no tema "loucura".
    Esperando o 5°
    Abraço!

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