domingo, 3 de outubro de 2010

Vivendo as utopias contra as distopias nos trópicos e para além deles

Créditos pela imagem: pablodf


Quando os discursos se desencontrarem mais uma vez, talvez não haja voz. O silêncio talvez diga algo. Muito se gritou, muito se disse, pouco se fez até ali.
Nesse momento se saturará... o grito do oprimido, e daqueles que diziam ao lado dele estar. O grito do opressor, então extirpado de sua condição.
Nesse momento, política não se fará mais em caixinhas, depositórios de papeizinhos, ou em calculadoras sofisticadas. Se fará no dia-a-dia em cada ato público, no trabalho, na mercearia e na vizinhança.
Nesse momento, todos os dias serão eleitorais. Não daqueles que decidiram por você por um tempo indeterminado. Mas serão vislumbrados como eleições perenes e continuadas de sua vida. Você não elegerá indivíduos, elegerá o seu direito de ser, de agir e ao mesmo tempo se solidarizará com os seus. Será humano. Será pleno. Será vivo. Não será mais moribundo. Não mais se reprimirá por visualizar realidades utópicas. A distopia não será mais um tubarão pronto a emergir em algum trópico. Nem acima, nem abaixo ou na linha do país sulamericano se permitirá o autoritarismo, ou a doutrinação do outro.
Se reconhecerá que humanos somos. Que sociedade somos. Que dos outros precisamos. E para nos prolongarmos é preciso irmos além de um pensamento sobre nossa própria vida. Não seremos mais mesquinhos. Não seremos mais egoístas. Não seremos mais tolos. Ou pensaremos que revolucionar é coisa de babacas.
Não precisaremos também que pensem por nós. Não precisaremos que façam por nós. Juntos faremos.
Eu olharei e você olhará e verá que podemos todos viver bem e que todos os luxos são falsidades imagéticas de um lugar que não é nosso.
Nesse dia eu não votarei em Dilmas, em Motosserras, em Marinas ou Agripinas. Nem em Plínios, Salgados, Doces ou Sampaios. Muito menos em Pimentas, em Ruis, Barbosas, Costas ou Cominhos. Também não votarei em Zé Marias ou em Marias Josés. E repudiarei vigorosamente os fascistas recalcados sob a égide musicada de Fidelix e mais ainda de Eimmaéis.
Nessa bandeira estrelada, sob o azul, o verde e o amarelo-ouro verte e verterá por tanto tempo ainda muito sangue. Talvez tenha chegado a hora de tirar as suas cores. Talvez tenha chegado a hora de aboli-la.
Talvez seja a hora de estendê-la nua e crua destituída de toda sua simbologia.
Os garotos e garotas mortos, física ou mentalmente, de todos os dias ressuscitarão revelarão um olhar iluminado, depois de sempre se sentirem cegos por uma venda que mal sabiam que os privava de visualizar o que estava bem às suas frentes.
Eu sei, pois comigo sempre foi assim. Sempre tentarão me privar disso. Tentaram me castrar os sonhos desde que eu nasci. Firme e forte eu fingia ter acreditado que o que me diziam era verdade. Mas eu era só desconfiança. Desbravei o mundo, me perdi por um milhão de tantas vezes. Eu mesmo me confundia e até este momento estou a me encontrar.
Só não permito que me privem de tentar.
Quando isso fizerem talvez seja incapacitado até de sentir. Esquartejado sentimentalmente então não seria mais que simples coisa, pois o sentir e dele experimentar são um amálgama indissociável.
Mas quanto ao silêncio que me referia. Você deve estar a matutar: ele não diz nada, como se converteria no próprio ato de transformar?
É que aqui não falo de voz. Mas de atitude contemplativa. Os gritos de antes só eram necessários porque nos digladiávamos. Preferíamos socar o outro, por mais próximo que fosse, antes de ouvi-lo.
Paradoxalmente, nesse silêncio haverá sim voz. O que não haverá são os surdos funcionais.

Uberlândia, 03/10/2010. Quase às 23:00 h. No mesmo dia que mais uma vez se destacou alguém pra decidir a sua vida e seu direito de ser. Poucos dias depois que quando se pensava que não seriam mais tão audaciosos, tentaram perpetrar um golpe militar num país chamado Equador. Há alguns meses desde quando começaram a expulsar ciganos do país que dizem ser grande gerador da erudição e sabedoria para o mundo moderno. Há alguns anos desde que comecei a me despojar da crença de que as coisas eram sólidas e impermeáveis. Um velho barbudo, que não era Santa Claus, me disse que elas sempre se desmancham no ar...


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