quinta-feira, 21 de junho de 2012

Poesia no e pro ar

A poesia não tem localidade
Sem espaço explode o tempo
Fica suspensa em corda de fios navalhados
Lá foi mexer com outra coisa
Ela se fatia, despedaça
vira mil e cem vidrinhos
de espelho em moldura nunca criado
Não tem gérmen de nada
nem prévias de concreto armado
se faz de instante liquidificado com instantes
que fomentam e compõem sentidos
ora mutantes ora distantes
excitantes broxantes e  laxantes

Construto mental inspirado
por melancolias, trivialidades e a aurora boreal
conversa com o mundo
vociferada por qualquer sujeitinho ensimesmado
do tipo que há muito pegava a pena
e hoje desliza dedos entre deletes e caps locks


A esses clamo a Deus prum algo:
que pequem contra tudo, todas e todos
mas que não reifiquem a palavra
não a coloquem nessa bolsa de valores
nessa que as ações da alma
valem moeda de centavo de real
Matéria voluptuosa traficada
pelo banditismo do status intelectual
sob formas que formalizam emoções
que formatam a vida
elegem dogmáticos catecismos
que proferem os ditos do momento
os malditos e obscurecidos da vez
e mesmo de seus eleitos
os destitui de completude
Toma-os por fragmentos
daqueles que de certeiro apetecem
os que não se procuram
e balbuciam o aleatório na atmosfera

Se isso é período
líquido-über-pós-não-se-sabe
Por favor peço ao Procon
forneçam-me linha direta 0800
Posso reclamar ao fornecedor?
Pode vender o que quiser
menos essas caixolas
com 300.000 capsulas
de princípio ativo "significados congelados"

Eu desejo é sair de meu iglu
fugir da branquidão sem fim da neve
tomar sorvete à luz do sol
pichar os céus com vislumbramentos
por mais heréticos que sejam
pras produções das altas castas poéticas
Dar chance ao diminuto eu
Ter leves plenos escapes...
Rumando e ruminando ao universo