Créditos pela imagem: FernandoOliveira
Tia Sônia
Vassoureira. A gargalhada desavergonhada estilhaça os vitrais da
intelectualidade. Esbofeteia foucaultianos, freudianos,
pós-modernos, marxistas, marxianos, marcianos e quem mais se arrogar de sabido.
Tia Sônia, a
vassoureira!? Isso não existe! Não é profissão de gente, diz a jovem plantada
debaixo da árvore por dias com livro de contos. Tem razão. Tia Sônia é mais que
isso, de fato! Não digo mais que vassoureira. Tia Sônia é mais que gente!
Mais que
gente porque ela varre mais que o chão, ela varre o universo inteirinho. Até os
cometas e os cisquinhos do chão. Sua vassoura é um cetro deificado, com ele
canta Madonna, baila Bee Gees. É seu pedestal microfônico. E é seu amigo. Seu
parceiro de dança. O difusor da alegria e o tapa na ordem. Ela é o descompasso.
Deixa enrubescido até o reitor.
Tia Sônia,
Vassoureira! A boca arreganhada e os dentes mostrando para se afirmar
triunfalmente! - Vassoureira da universidade!, faz questão de frisar. Não é
qualquer uma. E tem mesmo um ar doutoral.
Ser vassoureira da universidade é ruir as certezas. É debochar o dicionário, os significados formais, a língua culta e tudo mais. É desafogar a expressividade imersa no lodo. É a humanidade florindo onde havia saudades de um arregalo de pétalas.
Tia Sônia é
vassoureira. Ela pode ser. Porque brinca com as palavras com a autoridade de
quem é estrela de filme. Ela tem carta branca pra blasfemar o roteiro.
Faxineira, auxiliar de serviços, isso tem um monte! Isso é pouco pra ela ser. E
seria pouco se fosse atriz, cantora, humorista, dançarina ou poetisa. Ela é o
que se acha que não pode ser. Ela é VAS-SOU-REI-RA! Entenda! Ela é única e sabe
o quão grande é ser isso.
Tia Sônia
diz pra procura-la no Youtube. Ela coordena o passo, lidera a dança. É a rainha
da praia. – Procura lá!, diz sem vacilar. Dá à vista seu cintilar de talento.
Tia Sônia,
vassoureira. Ri-se de tudo. Daqui três meses ela volta. Com o acerto e o seguro
desemprego esgotados. Volta pra gente. Fungando profundo e gosto o ar com aroma
de erva. Zombeteia os estudantes que não lhe entendem, que não sabem
enternecer-se com sua magnitude.
Tia Sônia
não deveria estar com uniforme de empreiteira. Ela deveria ser imortal,
declarada patrimônio cultural eterno da universidade. Deveria ser tombada! Ou
então receber uma cátedra. Até porque quando ela chega a nitidez nos absorve e
fica tão claro o quanto a gente é tolo...
Uberlândia, 18/11/2012 –
14:03h
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