sábado, 30 de maio de 2015

abraçar sem prender

Hey, menina. O que está errado?
Pode a vida ter algo certo?
Eu já disse o que gostaria de ti.
Poderíamos tentar
A despeito de não sabermos o que será

Hey, menina. Esse é o jogo da vida.
Esmaga e morre, soçobra o mundo.
É inevitável o que há porvir
Toda ação desperta uma reação
Responsáveis somos por nós mesmos

Hey, menina. Eu não sei o que será.
Eu não quero tornar poema terapia
Só que é preciso marcar o que se passa no peito
Agora a lua é clara, mas se faz nova sinistra
Hoje há aperto no peito, mas podemos recomeçar

Hey, menina. Eu sei que te quero.
Só que não nasci para aprisionar
Um beija-flor morre em gaiola
E seguro nas mãos perde o ar
Venha a mim, mas só se desejar

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Ela e o Mar

Antes de dormir, cabe um poema?
Com letras maiúsculas no início dos versos
do jeito que eu nem faço mais

É que toda vez que ela vai embora
É como se eu olhasse a me despedir do mar
Admirando a vastidão e sem saber
Se um dia de novo vou poder lhe contemplar

Mesmo que partisse no horizonte
E eu ficasse triste a ver navios
Queria que enfim se descobrisse mar
E não se ativesse tanto ao seu vai e vem de marés
É que mar é como amar e é assim: instável
Dissolve o medo que nunca toma parte de sua natureza

Todo mar  vai ao longe e em profundezas
Tem o fantástico e profundo dentro de si
E deságua sempre em incomensuráveis oceanos
Assim como você vive e quer se fazer ser



domingo, 24 de maio de 2015

sem lugar - sem imagem


Você se preocupa por não saber o que quer. Eu já não me preocupo em querer. Apenas quero, apenas sou. Levo-me na levada do vento. Sofro os horrores óbvios. Vivo as alegrias do ópio momentâneo.
Percebo o milímetro e o imperceptível. Emerjo do abissal.  

Tem minutos que me canso, em outros crio ânimo. Desisto, resisto, insisto. Sou todos e todas. Meus erros são os erros do mundo. Meus acertos são insinuações do acaso.

Nunca estive muito certo do que sinto. Aprendi a não dissipar ou temer. Aprendi a não me prender demais. Aprendi coisas que julgo ter me tornado, mas as erro a todo instante. Sinto ciúme, sinto decepção, sinto raiva, mas me anestesio das feridas logo em seguida.  O desapego constituiu-se como minha regra.

Sinto repulsa da estupidez de sua dissimulação fracassada. Logo, compadeço e reconheço-me quando percebo não ter certo em que ponto não faria o mesmo. Em que medida, em que peso, vale a pena se agarrar aos prazeres? O gozo não se troca em papel moeda, mas tem seu preço caro.

Engulo o soluço de lágrima engasgada. Respiro fundo. Engulo fumaça. Sorrio. Só rio. Sou rio.

No curso das águas trafegando em sentidos diversos talvez nos encontremos. Não me desvencilho do rumo de minhas correntezas. Nunca fixo no mesmo ponto, a despeito de vive-lo em máxima voltagem. É que em minha alma nômade, nenhum lugar será em algum dia o meu lugar.

Diego Marcos Silva Leão


24/05/2015 – 21:45h

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Não-lugar

créditos pela imagem: Mathieu Bertrand Struck


Inesperado. Repentino.
Como todo bom romance deve ser.
Reapareceu numa linha do acaso de beijos de tempos que tinham ficado já longes
Num tempo que tinha que ser. Na melhor hora para abraços de braços, de pernas e de almas.
Fez-se paixão nova, quando as paixões já nem pareciam ter tanto sentido. Girou a vida, girou o mundo, girou o sol.
Fez-se menina de olhos estrelados e mulher com desejo feito mar em cheia.
Tornou-se lua que em suas fases e faces, por vezes toca-me com seu brilho, por vezes some no céu. Recriou-se em suas tempestades internas, a querer destruições para se transmutar em construções.
Entregou-se.
Sempre. A. Cada. Instante.
Sentiu. A língua e o tato. A pele. Os dentes.
Ressurgiu. Sem forma. Sem lógica. Sem medo. Querendo apenas ser.
Fez-se uma sorte grande em tempos em que nos cassinos da vida, os jogadores sofrem de azar.
Requereu-se em encanto, uma magia: em toques que tornam desnecessárias palavras para expressar a verdade em sua forma mais íntima.
Fez-se beijo permanente nos lábios. Risada que ecoa na memória tão doce.

Fez-se enfim grande e denso. Para além do vento e do tempo.  Num não-lugar, onde libertar-se é uma rotina que se chama amor.