domingo, 27 de março de 2016

ment(e)ira

meu medo é insegurança de mim
forjo desconfianças em outrem
por não saber me acreditar

êta vida leva
e só leva
leva esses lampejos dissabores
que nem fazem razão de pensar

da sabedoria que fortalece o engano
vem o pensamento sem mundo
que se revela tão absoluto insano
e se descola do real de ser

sábado, 26 de março de 2016

Perdões a quem não quero perdoar

Desculpas sinceras peço se não sou de meio termos. Se não consigo disfarçar sentimento, se não finjo ser quem não sou para quem não quero por perto.
Desculpe, e digo sem "moralismos", que é isso que se pode esperar numa ética de quem não aceita as coisas como são.
Peço meus singelos perdões a quem me sacaneia e vem me pedir ajuda com cara blasé por não despistar a má vontade. E também ao fato de não admitir amizade com gente que tem posição de mundo de achar que é bonito as coisas serem como são, de que não há exploração e opressão no mundo.
Desculpas peço. Não que lhes odeie a todos. Mas é que nesse mundo não dá para não ter lado, e a necessidade de ter lado vai se revelando nas sutilezas.
Não posso andar ao mesmo lado de gente que prolifera ódio, que acha que miséria é invenção, que coloca lenha na fogueira dos poderosos, que fica a colocar mais suporte para o status quo.
Perdão aos que permito andar a meu lado, mesmo sem em presença querê-los. Mas se lhes respeito por considerar que em muito estamos juntos a caminharmos pelas contingências que se apresentam, não posso simplesmente ser cristão a ponto de dissolver as mágoas. Não sou imune às feridas da vida, e as cicatrizes que as cobrem, se curam, também deixam marcas de lembrança.
Não consigo admitir hipocrisia e nem creio que relações se fazem por conveniência.

Olhando agora as fotos vejo no que me tornei e não sinto vergonha.

Em tempos em que se exige um posicionamento e uma postura na vida, não dá para ser meio termos. Não dá para viver em afagos, apertos de mãos ou amenidades com quem está do lado daqueles que proliferam as violências, mesmo estando em condições de terem plena consciência de suas possíveis implicações.


terça-feira, 22 de março de 2016

faz-se cada sonho morrer
pra cada ilusão desflorescer
e assim camada a camada
ser-me real-mente

desfaz-se todo de tolo
o que resta de esperança
e os dias vindouros
contarão regressiva-mente

sexta-feira, 18 de março de 2016

con-formar

um brinde à vida
mesmo sofrida
e aos abalos sísmicos
que fazem aqui dentro

um brinde à vida
às denúncias feitas por mim
gritando a mim mesmo
por justiças às vítimas que me faço ser

um brinde à vida
com seus terrores e desvarios
porque é a companhia que tenho
e porque com a morte não bebo

um brinde à vida
porque luto por ela
porque luto através dela
porque a luta é ela

segunda-feira, 14 de março de 2016

de(mente) em tempo


às vezes um algo me come
sentimento que botaram nome
que responde por solidão
e que provoca memórias
e os machucados de tempo

meu semblante interno
com calos de espinhos
ninguém se demora
ao ver interstícios vazios
e o vão que apavora

a saída da angústia
não tem uma porta
tampouco uma rota
pra algo que importa
pra se impor novas cores

a palavra tem seu tempo
diferente das coisas
que tem própria história
porém uma corrói a minuto

e outra esmaga a gente


Uberlândia – 14/03/2016 – 22:59h